15.2.07

O BETÃO DA PRAIA DOS ESTUDANTES in Correio de Lagos, 23-01-2007




É com alguma estupefacção que, quem entra na praia dos estudantes, depois de atravessar o túnel de uma das suas falésias, depara com um muro de cimento e betão que se começa a erguer para sustentar alguns deslizamentos de terras que, do lado da Casa do Pinhão, correm o risco de se precipitar sobre aquela praia.

Com esta estrutura de betão, que parte e sobe pelo ar, acaba-se com o perigo dos terras poderem deslizar e, dessa forma, invadir aquele pequeno areal.
A obra, anunciada antecipadamente pelo executivo municipal, e da responsabilidade dos proprietários da Casa do Pinhão que, dessa forma, querem colocar um travão a essas derrocadas que lhe vão roubando terra e ameaçando a estrutura do próprio edifício. Poder-se-á dizer que é resultado de se construir em cima das próprias arribas. E esse perigo foi logo equacionado aquando da sua edificação ao ponto de se construir, na sua ala sudoeste, um imponente paredão que continua a sustentar a plataforma em que a casa se ergue. Mas, em boa verdade, esse paredão não fere a sensibilidade de quem olha para si. Quer a sua cor, quer o tipo de construção e, ainda mais com a salinidade do tempo, dá-lhe conformidade e sintonia com a própria falésia.
Agora, aquela estrutura de cimento e betão fere, agride e está longe de se integrar naquela arriba que está a deslizar. Enquanto o paredão, com o tempo mais condiz e se integra, aquela estrutura de betão mais se distancia e menos tem a ver com todo o contexto natural daquelas arribas e de toda a ambiência que confina com o mar.

É verdade que doeria a alma a qualquer um ver, como está a acontecer ao longo das Costa D ' Oiro, derrocadas constantes colocarem em perigo uma casa como aquela. Mas esse é o preço a pagar por quem não se sujeita às leis naturais e constrói, como naquele caso, em cima das arribas do mar.
Perante a constante erosão que se verifica, quer em torno da casa do Pinhão, quer em torno da restante Costa D' Oiro, é necessário por em marcha um plano de consolidação ao longo daquelas praias e enseadas. E este há muito que foi anunciado. Mas tarda em se saber quando é que se poderá começar a ver. Abrangendo uma área que vai da praia da Batata até à Dona Ana, continua-se a adiar. E com tanto atraso, não admira que surja uma ou outra construção parcelar, como é o caso da intervenção que está a acontecer na praia dos Estudantes. Mas perante o que se lá vê, começa-se a perguntar se esta intervenção está em sintonia com o plano de consolidação preparada para aquele pedaço de costa. Outras interrogações estão já a levantar o problema dessa construção não seguir uma metodologia semelhante à da construção desse paredão proveniente dos tempos originais. Em vez daquele muro de betão que choca e agride o contexto ambiental de uma praia como aquela, dever-se-ia ter optado pelo muro em alvenaria.
Apesar das interrogações que se estão a levantar o muro de betão, com toda a sua imponência, aí continua a crescer. Espera-se, ao menos, que depois de erguido, possa ser revestido de pedra calcária para que a sua agressividade seja minimizada e o impacto negativo aí se verifica, se possa suavizar.
É verdade que perante estes fenómenos de erosão que estão a por em perigo caminhos e percursos como acontece em torno da praia do Pinhão, se tem de fazer alguma coisa. Mas qualquer intervenção, como a que se verifica na praia dos Estudantes, terá de ser integrada numa intervenção mais ampla e, sobretudo, não ferir o contexto paisagístico natural em que se insere. E a avaliar pelo que se está a erguer na praia dos Estudantes, aquele muro de cimento e betão, em vez de seguir os caminhos do muro de suporte que surgiu com a construção da Casa do Pinhão, optou pelo recurso mais fácil, independentemente da sua configuração. Se nada for feito para o disfarçar, a Costa D' Oiro, naquele ponto, em vez de se recuperar começa-se a abastardar. E, então, ter-se-á de dizer que este augúrio não é nada de bom para a recuperação que se espera entre a praia da Batata e a da Dona Ana.

in Correio de Lagos, 23-01-2007

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